martins em pauta

segunda-feira, 21 de julho de 2014

É problema de junta?

Por François Silvestre

Passada a decepção da Copa, que teve o condão de desmascarar farsantes e espertos, todo mundo tem uma sugestão.

Os especialistas, que vão de comentaristas, técnicos e pitaqueiros, todo mundo tem uma fórmula. E olhe que a grande maioria, desses que estão apontando caminho novo, dava como certa a vitória final do Brasil.

Apareceu uma fórmula mágica, saída da lâmpada de Aladim, nesse universo de gênios. “É preciso contratar um técnico de fora”. Ora, Felipão já foi herói. Mas o problema não é ele nem essa ou aquela pessoa. É um problema quase crônico da vida nacional, que esbarra fundamentalmente na deseducação.

Deseducação aqui dita nada tem a ver com etiqueta ou maneirismo no trato. Não. É falta mesmo de instrução, política educacional de base, ensino médio medíocre, ensino superior voltado para o mercado e não para a edificação cultural ou aprimoramento de pesquisas.

Fosse diferente seria fácil. Bastaria encarregar o portador que vai buscar o técnico de fora para trazer também uma CBF de fora. Aproveitar e trazer um Ministério dos Esportes de fora. Ou melhor, trazer logo um governo completo de fora. E pra não perder a viagem, pôr na bagagem uma oposição de fora. De contrapeso, trazer também uma mídia de fora.

Isso me faz lembrar de uma anedota de carro velho. O dono do carro, de tanto sofrer, procurou o melhor mecânico da cidade. Após examinar o veículo, o perito informou: “O problema é de junta”. O dono do veículo quis saber: “Qual delas e o que devo fazer”? Aí o mecânico respondeu: “Como lhe disse, o problema é de junta. Junta tudo e joga fora”.

Brincadeira e exageros à parte, o Brasil é um excelente país. E tudo que aí está não é só culpa de quem faz parte do mando e do desmando. Nós, os brasileiros comuns, somos os responsáveis por tudo isso.

O Governo é resultado da nossa escolha. A oposição é fruto do nosso consentimento. A mídia é filha da nossa audiência. Votamos majoritariamente nos que mandam. Votamos minoritariamente nos que se opõem e damos, com nossa audiência, poder de patrocínio ao universo midiático.

Portanto, a junta mais desgastada desse calhambeque somos nós.

Ainda não há um povo brasileiro. Não se faz um povo com menos de mil anos. Somos um pré-povo, assim como universalmente somos uma pré-humanidade. O Brasil comporta no seu território um povo em formação, cuja fornalha de feitura tem pouco mais de trezentos anos.

Da lição de Darcy Ribeiro aprendemos que essa formação tem tudo para dar certo. É só uma questão de tempo e querer. Só que o tempo ainda é pouco e o querer quase nenhum.

Mas o resultado dessa miscigenação fantástica está condenado ao acerto, mesmo sem o argumento do determinismo histórico. É que essa mistura resulta da naturalidade do índio, da tecnologia do europeu e da espiritualidade do africano.

Té mais.

François Silvestre é escritor

* Texto originalmente publicado no Portalnoar. / Carlos Santos

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